sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Inocente e a Parteira

Em uma pequena e pacata cidade
as margens do rio Tocantins,
um grito de dor
corta todo o marasmo

Dentro de um casarão
todos acordam.
Muitos são irmãos que ali moram
com os olhos arregalados
procuram uma resposta

De repente a mãe chama o maior e diz:
Vá Chamar a vovó Bereca,
o filho sai no afão de ter
uma resposta para aquilo tudo.

Ao abrir a porta ele lembra
que ainda é madrugada,
aí vem o medo de sair
e olhar para o céu
e ver um caixão ao lado da lua.

E em seguida ter que passar
no beco da Domingona,
pois todos dizem que é de lá
que saem as ''Martintas Pereira''.

E o rio! Sempre paralelo a rua
Aquela hora podia a qualquer momento
emergir o Negro D'água.

O filho para ao abrir a porta de casa,
pensa, treme e faz uma pequena oração.
Em seguida corre em disparada,
e logo chega a casa da vovó Bereca

Bate na porta, vovó Bereca parecia ja saber de tudo.
O filho afobado tenta exolicar,
vovó se levanta de uma cadeira,
apoia seu braço trêmulo no ombro do menino assustado.

Dá um sorriso com sua boca funda sempre a mastigar,
na gengiva só um dente,
talvez marcando as eras daquele rosto cansado.

Começa a viagem de volta
o trajeto é pequeno.

Mas vovó já um pouco corcunda
e com seus passos lentos,
faz com que o rapaz lhe faça
outras perguntas para tentar esquecer o medo.

Vovó porque isso sempre acontece com a mamãe ?!
Filho, enquanto seu papai e sua mamãe
estiverem juntos....
A cegonha sempre vai aparecer lá.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O PILOTO

O rio está cheio.
O barco ancorado ao cais.
 Amarrado por cordas e arretinidas.
Esperando a hora da partida.
Seu porão é grande, mas logo estará cheio de castanhas.
Que de hectolitro em hectolitro são medidos
sobre o olhar atento do marca marcador.
Tudo pronto, porcos d’água a bordo,
uns soltam o barco outros recolhem as pranchas.
O barco carregado parece deslizar suavemente.
Sob as ordens de seu principal condutor: o piloto.
 
A viagem é longa e o Rio Tocantins majestoso e traiçoeiro
esconde: Pedras, banco de areia e cachoeiras.
O piloto não pode errar.
Capitariquara a vista, começa a hora de aflição.
O piloto ordena: marinheiros e passageiros procurem seus lugares.
Porco d’água baixe e pregue as sanefras,
mestre de proa amarre os tambores no molinete.
O piloto faz soar uma campainha,
que é seu principal instrumento de comunicação entre ele e o maquinista.
O maquinista que por sua vez responde com seguidos toques de retinidos,
avisando que está atento aos seus comandos.

Começa a operação descida.
Com seus braços fortes o mestre piloto segura firme a cana de leme,
seu rosto se franze, seus músculos parecem querer pular.
Com um toque pede que diminua a aceleração do motor, mas pouco adianta.
O rio corre muito, e ele tem que ser preciso.
Em sua frente estouram rebojos, rodeados de pedras mortas.
O barco pesado parece gemer.
Em seguida vem a volta das três pedras.
E logo também vem o corte do engenho.
De tão pesado parecia que o barco ia afundar,
mas logo se emerge.

É a famosa gangorra das cachoeiras.
O mestre piloto atento parecia não piscar.
Era uma luta bonita,
onde o homem só tinha que acreditar nele mesmo fazendo o uso
de todos os seus conhecimentos: técnica e força.
Naquela época não existia a avançada tecnologia de comando
e o mestre piloto não podia errar,
pois qualquer erro era fatal e todos os danos atribuídos a ele
o piloto.
Muitos já se foram,
os que ainda sobrevivem foram esquecidos por nossa história,
mas eu ainda tenho em minhas lembranças.
Posso cantar que meus heróis não morreram de overdose.

Viva mestre Dadá!
Viva mestre Ramires!
Viva mestre Felipe Bala Doida!
Viva mestre Boca Preta!
E viva mestre Munguba!